quarta-feira, 24 de outubro de 2018

E continuamos aqui na luta....



Como a maioria dos meus amigos sabe, sou professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Sabe também que fui aluno de graduação (Licenciatura em Química) da mesma instituição e campus no qual atuo como professor de Química e Ensino de Química.
Ensino de Química trata de questões relacionadas à educação. Essa relação entre Educação e Ensino é muito mais densa do que se imagina. E isso, às vezes é um problema. Alguns têm dificuldade de enxergar essa relação.
Atuo além do nível médio, na graduação, especificamente, na licenciatura em Química, mais específico ainda, na formação de futuros professores que atuarão na educação básica.
Educação básica compreende educação infantil, fundamental e médio pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Lei que norteia a educação em nosso país.
O problema é que existem pessoas que não sabem muito sobre a LDB, sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais, sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais, sobre as teorias da educação que fundamentam  o fazer pedagógico do professor, independente da sua formação específica.
Segundo esses documentos o professor, independente da disciplina que leciona, deve formar na educação básica um cidadão que tenha criticidade, isto é, a disciplina específica (química, matemática, física...) é um recurso de formação integral do aluno.
Formação integral que também é um conceito da educação, desconhecido por muitos, refere-se à formação do alunos nas mais diversas perspectivas, inclusive formação para o mundo do trabalho, em caso de educação técnica. Mas o trabalho aqui deve ser tratado a partir do princípio pedagógico.
E aí, também é necessário estudar um pouco sobre isso.
Alguns também desconhecem a necessidade de ler alguns documentos sem esquecer as entrelinhas. O professor precisa ler o que não está escrito, sabe?
Há pouco tempo participei de uma mesa redonda no IFRJ sobre a nova Base Nacional Comum Curricular como palestrante.
Li o documento todo. Reli o documento todo. Li as entrelinhas. Reli as entrelinhas.
A BNCC para o Ensino Médio ainda não foi homologada, mas “muitas” discussões estão acontecendo em torno deste tema.
A Reforma do Ensino Médio também tem sido alvo de discussões.
Só para esclarecer a reforma e a base são documentos diferentes, mas que estão intrinsicamente relacionados.
A base trata do ensino por competências. Leia competências como INSTRUMENTALIZAÇÃO DO ENSINO.
A reforma trará a MERCANTILIZAÇÃO DO ENSINO. O mercado de trabalho será responsável por traçar o perfil do aluno que devemos formar. Isso está certo?
Há pouco foi publicada uma carta com consulta pública que trata desses temas, após um seminário que aconteceu em setembro.
E lá, nas entrelinhas, diz tudo o que relato nesse texto.
Há sim uma tentativa de desmonte dos Institutos Federais.
Se como IF só pudermos oferecer o itinerário formativo da educação profissional significa que seremos impossibilitados de formar o aluno integralmente. Haverá uma ruptura com a identidade dos IFs, fazendo com que os cursos de graduação, também, não sejam mais oferecidos por nós.
Há muitas outras consequências...
E eu, como professor, educador e alguém que pensa e pesquisa a educação não posso fingir que nada está acontecendo.
Não posso negar ao meu aluno o direito de conhecer essas perspectivas.
Mas, Victor, será que isso tudo que você está falando vai acontecer? Não está escrito em lugar algum!
Primeiro, está escrito sim – nas entrelinhas.
Não posso afirmar que isso tudo vai acontecer e no que depender de mim, da minha resistência, não vai acontecer não, mas convido você professor, futuro professor, cidadão a tentar traçar um panorama da educação desde o impedimento da Dilma, quer dizer, do golpe de 2016.
Mas oh, só vale um panorama com fundamentação, tá?

Beijos no coração.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Feliz dia do professor, do mestre, do educador....



Já, várias vezes, escrevi sobre o que sinto em ser professor, na verdade, educador. Há muito pesquiso sobre a formação docente. Sobre os fatores que influenciam a formação e mais precisamente sobre os saberes necessários (acadêmicos e experienciais) para atuar com dignidade como docente e prover dignidade aos alunos que passar por nós. Mais precisamente, pesquiso, atualmente, sobre a construção da identidade docente tanto do professor no exercício das suas funções quanto do professor em formação, nos cursos de licenciatura.
Há muito entendo que o ato pedagógico não é só importante como essencial para o fortalecimento da sociedade como um pilar da vida. Há muito tento entender qual é o papel do professor nos dias atuais em um período pós-industrial em um país periférico. Há muito me debruço nos livros e textos de artigos científicos para estudar sobre como formar um cidadão que esteja apto a ser inserido em uma sociedade. Um cidadão com criticidade, obviamente.
Há muito uso a Química como recurso de formação desse cidadão. Há muito reflito sobre quais são as necessidades daquele ser humano que está em sala de aula comigo. Há muito leio Paulo Freire tentando exorcizar a pedagogia do oprimido das escolas e da comunidade escolar e tento instalar a pedagogia da autonomia.
Há muito como professor tenho sempre bastante a dizer, mas tenho muito mais a ouvir daqueles que muita das vezes não tem voz em casa. Ah, mas na minha sala de aula, quem ocupa o lugar de fala são os meus alunos. Eu, escuto, incito o pensamento crítico e faço a mediação no processo de construção do conhecimento científico quando ciência é tudo que se dá através de um método.
Há muito leciono baseado em minhas convicções, porém ao mesmo tempo em que há muito leciono, aprendo baseado nas convicções dos meus alunos.
Há muito tento tornar minha sala de aula um local democrático, assim como deveria ser a sociedade.
Há muito escuto de pais que a escola é um local de doutrinação ideológica e que os filhos deles não devem se submeter a isso. E quando esses pais viram as costas, seus filhos, meus alunos, pedem desculpa a mim por ter que ouvir isso.
Há muito escuto dos meus alunos que o melhor lugar pra eles é na escola, dentro de sala e que eles não querem voltar para casa. E acreditem são os filhos dos pais que gritam o provimento da educação tradicional.
Há muito tentam amordaçar os professores com argumentos sem sentidos. Há muito, RESISTO!
Há muito percebo que as pessoas não entendem o que se faz na educação pública.
Há muito sinto os colegas de profissão se responsabilizar por erros que não são seus.
Há muito percebo a manutenção do sistema pela mídia e grandes empresários.
Agora, vejo a tal reforma do ensino, ser enaltecida por muitos. Mas, percebo que eles não entendem que tudo se trata da privatização do ensino público. De entregar a educação na mão dos grandes empresários. E que isso se trata de instrumentalizar o ensino. De conferir ao ensino o caráter meramente pragmático. E que isso reforça a divisão entre o fracasso do pobre e o sucesso do rico.
Não entendem que a elite continuará tendo acesso ao ensino superior e que os pobres, as minorias, continuarão sendo formados como mão de obra barata para apertar botões, simplesmente.
E as minorias não acordam porque não se permitem escutar o que nós professores temos a dizer.
Não, nós não somos os que doutrinam. O sistema doutrina. O que nós, professores, fazemos, é tentar mostrar a manipulação e nadar contra a doutrinação.
Há muito escrevo sobre o que é ser professor com felicidade. Hoje, nesse prenúncio de possíveis tempos sombrios, o sentimento que me move é a RESISTÊNCIA.
Eu sou professor e ainda creio que não entregaremos o nosso país na mão de quem quer nos destruir e implantar um regime não democrático.
Eu sou professor e continuarei dando a melhor formação possível para as “crianças” que passam por mim. Entendam crianças, como alunos do ensino médio e universitários, futuros professores.
Eu sou professor e não doutrino.
Eu sou professor e não domo.
Eu sou professor e não categorizo.
Eu sou professor e não diferencio.
Eu sou professor e não prendo almas.
Eu, ah , eu LIBERTO pessoas.
E sim, talvez seja pra você que lê esse texto seja um absurdo eu dizer que LIBERTO alguém. Talvez pra você que lê esse texto, falte humildade da minha parte, mas deixa eu te dizer uma coisa:

- Não falta não. Quer entender?
- Porque estudei muito e continuo estudando. Estudei a educação e a pedagogia no processo sócio-histórico, estudei qual é o papel da escola como instituição educativa, estudei trabalho como princípio pedagógico e não no sentido pragmático. Ah, como eu estudo.....

E você?

FELIZ DIA DOS MESTRES!

#Haddadsim #haddad13