segunda-feira, 23 de maio de 2016

Bife com batata frita - O cheiro do amor e a certeza da saudade

 


O delicioso cheiro de bife com batata frita adentrou meu quarto e despertou-me do sono mais longo. Já era tarde para acordar, acho que umas 11:30h....rsrsrs
Um sábado nublado! Ah, que preguiça!
Junto com o cheiro da comida, a certeza de que mamãe estava lá na cozinha, pensando em mim e fazendo a minha comida preferida.
Vou levantar, almoçar e brincar.
Como é bom o final de semana!
Posso brincar sem ouvir minha mãe dizer que tenho que tomar banho pra ir ao colégio.
Eu gosto de ir pra escola, mas às vezes é mais legal ficar em casa. Brincar com minhas bonecas.....

Hum, que fome!
Hum, que preguiça!
Hum, que caminha gostosa!

Hum, ....

“Tina, meu amor, está na hora de almoçar. Vá lavar seu rosto e venha que estou esperando!”
“Já vou mãe!”
“Agora, Tina! Se não levantar eu já já vou aí e aí você vai levantar rapidinho!”
“Hunft, já vou!”
“Se resmungar é pior”
........

“Mãe, está uma delicia esse bife!”
“É meu amor! Eu sei que você gosta, por isso fiz! Agora, termine de almoçar pra brincar um pouco.”
“Com esse frio não vou querer sair não mãe. Vou escrever no meu diário.”
“Tá bom Tina, mas depois eu vou querer que você leia pra mim hein...”


“Meu querido diário,
hoje é dia 10 de março de 1990, e estou muito feliz! Acordei tarde, minha mãe fez minha comida preferida, está um friozinho e eu estou enrolada na coberta escrevendo.
Não tem nada melhor!
Resolvi escrever sobre minha mãe.
Sabe, ela não tem defeito! Quer dizer, tem sim. Mas isso não é importante.
Ela finge, por amor, não enxergar os meus, então, não vou enxergar os dela, pelo mesmo motivo!
Quando eu ficar grande, quero ser igual a ela. Caramba, ela me ensina muitas coisas. Muitas coisas mesmo.
Ela me diz que eu preciso ser responsável e comprometida.
Ela diz que sou muito inteligente e que vou conseguir conquistar tudo que desejar.
Com muita honestidade e dignidade.
De vez em quando ela briga muito. Eu fico muito chateada.
Mas quando o tempo passa eu vejo que é tudo para o meu bem!
Tudo por amor!

Caramba, ela deixou de fazer tantas coisas pra se dedicar a mim.
Eu vou ser sempre muito agradecida.

Ai meu Deus, não sei o que vai ser de mim quando mamãe for pro céu!
Ai meu Deus, não sei o que vou fazer!
Ai meu Deus, não quero mais pensar nisso!
Ai meu Deus, eu........”

“Meu querido diário,
hoje é dia 25 de agosto de 1995, e estou muito incomodada.
Depois do dia 10 de março de 1990, não consegui escrever mais no meu diário, porque sempre tento acabar de escrever sobre a possibilidade de minha mãe partir, meu coração aperta e eu tenho que parar!”

“Meu querido diário,
hoje é dia 06 de junho de 2000, e estou muito incomodada.
Depois do dia 10 de março de 1990, não consegui escrever mais no meu diário, porque sempre tento acabar de escrever sobre a possibilidade de minha mãe partir, meu coração aperta e eu tenho que parar!”

“Meu querido diário,
hoje é dia 15 de setembro de 2005, e estou muito incomodada.
Depois do dia 10 de março de 1990, não consegui escrever mais no meu diário, porque sempre tento acabar de escrever sobre a possibilidade de minha mãe partir, meu coração aperta e eu tenho que parar!”

“Meu querido diário,
hoje é dia 24 de maio de 2016, e estou saudosista.
Ah!
A saudade é, em minha opinião, um dos sentimentos mais puro.
Consigo, agora, escrever no meu diário depois do dia 10 de março de 1990 com muita tranquilidade.
Com o coração cheio de ternura. Ainda me lembro do cheirinho do bife com batata frita.
Ainda me lembro dos conselhos, ainda me lembro das brigas, ainda me lembro dos momentos mais divertidos e felizes.
E me lembro de tudo isso com tanta paz.
E me lembro de tudo isso com tanta serenidade.
E me lembro de tudo isso com tanto amor.

Saudade não é sofrimento.
Saudade é aquela sensação gostosa que temos depois de beber água quando estávamos com sede.
Saudade é aquela sensação gostosa que temos depois de comer quando estávamos com fome.
Saudade é aquela sensação gostosa de rir até perder o fôlego.

Eu aprendi o que é saudade. Sinto saudade há 5 anos!

Estou feliz, e estou aqui como você me pediu, mamãe, sentada na beira da minha cama olhando para estrela mais brilhante, lendo meu diário pra você!

Ah mamãe, como você brilha no céu e, principalmente, aqui. Dentro do meu coração!”

A saudade não só me fortalece como também me impulsiona a ser alguém melhor a cada dia.




 CONSIDERAÇÕES DO AUTOR:
Hoje, não diferente de todos os outros textos, a responsabilidade de tocar você leitor é ainda maior.
Escrevi essa crônica a pedido de uma amiga muito especial. Tentar transformar em escrita qualquer sentimento é bastante difícil, mas não vou correr.
Espero que todos façam bom proveito!


segunda-feira, 9 de maio de 2016

A Consonância Paradoxal De Um Discurso

http://behavioristaemacao.blogspot.com.br/p/tecincas.html


O dia está lindo! A sensação térmica agradável. Céu azul, flores no jardim, pássaros dançando sobre a cidade.
Eu completo hoje 55 anos de vida, que felicidade!
Sou professor do Ensino Médio e diferente do que faço todos os dias em sala, hoje, vou dividir com meus alunos a minha experiência de vida.
Essa troca de informações é importante e necessária pra consolidar a formação deles. É sim! Muito importante.

“Bom dia meus queridos alunos! Como vão?”
Faremos uma atividade diferente hoje. Por favor, organizem suas cadeiras em círculo.
O que quero agora é conversar sobre como a nossa conduta interfere no nosso olhar sobre a vida.
Eu costumo dizer que os princípios que devemos seguir são transmitidos a nós pelos nossos responsáveis e professores. Principalmente pelos professores dos anos iniciais da educação.
Eu tive uma professora fantástica no início da minha vida escolar. Ela ajudou-me a aprender quais eram os meus deveres e direitos. A aprender como deveria me comportar na sociedade.
O nome dela era Teresa. Tia Teresa!
O homem que sou hoje deve muitos agradecimentos à Tia Teresa.
Tia Teresa, sempre, em suas aulas, falava sobre honestidade e lealdade. Ensinava sobre o quão errado é fazer algo ilícito.
Dizia que devíamos ter cuidado com as “facilidades” da vida.
Certa vez um coleguinha pegou meu lápis sem pedir a minha permissão. Ah! A Tia Teresa fez com que ele me devolvesse o lápis e de maneira muito sábia falou que quando pegamos algo que não é nosso sem permissão fica ali caracterizado um roubo. Explicou tudo que deveria sobre isso e quando terminou sua fala, nos deu um abraço e um sorriso maternal.”

Eu continuei ali falando durante 2 horas para os meus alunos usando-me, com orgulho, como um bom exemplo de cidadão justo, idôneo e realizado. Critiquei duramente todos os cidadãos que vivem à margem da sociedade!!!!!!
E ressaltei veementemente como Tia Teresa e todas as outras Tias são FUNDAMENTAIS em nossa formação.
Quando saí da sala, com a sensação de dever cumprido, meu celular vibrou. Era uma mensagem da minha esposa:

“Oi meu amor! Hoje o dia é especial, pois é o seu aniversário! Aguardo ansiosa para poder comemoramos juntos o seu dia.
Embora saiba que hoje você não quer se aborrecer com nada, preciso dizer algumas coisas:
Recebemos uma intimação da polícia. Parece que descobriram que estamos sonegando alguns pequenos impostos.
 Nossa “luz” está cortada. O representante da concessionária de luz esteve aqui em casa e descobriu o pequeno “gato” que fizemos para diminuir gastos.
 Parece que nosso filho está tendo problemas com a matrícula da faculdade. Ele se autodeclarou pardo como você orientou. Mas parece que descobriram sua descendência alemã direta.
 O Adalberto, seu amigo que trabalha naquela multinacional, ligou dizendo que não poderá dar um “jeitinho” para arrumar o emprego pro nosso filho. Disse que ele terá que participar do processo seletivo normalmente. É mole? Esse é amigo da onça!
Então é isso amor. Grande beijo e me manda uma mensagem dizendo o que quer ganhar de presente de aniversário.”

Eu ainda não tinha pensado sobre o presente, mas após ler a mensagem da minha esposa eu sabia exatamente o que pedir. Então, peguei o celular e respondi a mensagem da minha esposa:

“O que eu quero de presente?
O que eu quero?
Eu quero assistir novamente as aulas da Tia Teresa.”



segunda-feira, 2 de maio de 2016

Monólogos em um caderno - Uma crônica sobre a família


A comida estava quase pronta, a mesa já arrumada com os pratos, talheres e copos.  Era domingo por volta das 13h. Flávia  já havia chamado Pedro, seu marido, algumas vezes pra almoçarem juntos.  O casal de filhos,  Caio e Bianca,  já aguardavam ansiosamente pro início da refeição.

- "Vamos logo mãe, deixa meu pai pra lá.  Depois ele almoça. Você não sabe que ele é assim! Ele nunca pode!"

Flávia,  após ouvir o apelo dos filhos,   sentou-se e serviu a comida com o coração apertado.  Ela desejava do fundo do coração que pudesse ao menos no domingo fazer uma refeição com a família completa.

Como já não tinha forças pra insistir, almoçou, conversou com seus filhos.  Trocaram ideias sobre o que havia acontecido durante a semana passada e quais eram os planos pra semana vindoura.

Após o almoço, descansaram um pouco.  Antes de ir tirar seu cochilo foi até ao pequeno escritório que tem em sua casa, deu um beijo na testa do seu marido e lamentou disfarçadamente o fato de ele não ter participado da refeição.

Quando acordou, resolveu levar os meninos  ao cinema. Chamou Pedro e ele disse que não poderia ir,   pois estava terminando  de preparar documentos importantes pro trabalho.

Flávia foi ao cinema com os filhos.  Depois fez um lanche com eles e então entre muitas gargalhadas discutiram sobre o filme que assistiram.

Essas situações já tinham virado rotina na vida daquela família.  A ausência de Pedro mesmo que presente fisicamente já era uma constante naquela casa.

Na quinta feira, não diferente de  todos os outros dia da semana, Pedro levantou-se as 5h pra ir trabalhar. Tomou banho, comeu alguns biscoitos com café e andou em direção à porta pra ir trabalhar. 

Antes de sair de casa, olhou rapidamente ao redor e o sentimento de orgulho inflou no seu peito enquanto pensava :

"Graças ao meu trabalho consegui conquistar essa casa linda e os carros que estão  na garagem.  É com o meu trabalho que consigo dar a vida que minha mulher e meus filhos merecem ". 

E assim entrou no carro e foi enfrentar mais um dia duro de bastante compromissos profissionais.

Quando às 21h desse mesmo dia Pedro se deu conta que precisava voltar pra casa, arrumou, rapidamente, sua bolsa e telefonou pra casa com a intenção de falar com a Flávia, sua esposa.

Mas a tentativa foi sem sucesso.  Foi então quando resolveu ligar pro celular da Flávia. Chamou, chamou, chamou e ninguém atendeu!

Pedro, então, pegou seu carro e foi pra casa.  Durante o caminho pensou novamente sobre o quanto era feliz por poder dar à sua família conforto e uma condição financeira bacana.

Ao chegar à casa viu sobre a mesa uma carta.  Sorrir e pensou: "Minha esposa e filhos estão preparando uma surpresa pra mim!"

Tomou a carta assinada por Flávia em suas mãos, sentou-se e deu início a leitura.


" Meu querido e amado Pedro.  Quero agradecer por tudo que fez por mim e nossos filhos.  Quero agradecer muito pelo conforto que você sempre nos ofereceu!
Mas, com o coração partido,  resolvi mudar de vida.  Resolvi que deveria tentar encontrar alguém que tivesse a família como prioridade, já que o conforto conseguido pelo trabalho só é conforto se desfrutado juntos.  
Nossos filhos cresceram e tenho certeza que vc não sabe muitas coisas sobre eles. 
Tenho certeza  também que você não sabe que há 3 anos eu não como mais frutos do mar. 
Tenho certeza que você não sabe que há dois meses fui demitida por ter faltado o emprego pela 5 vez consecutiva pra  levar a  Bianca ao médico.  Ela está com cálculos nos rins .


Tenho certeza que você não percebeu que tentei conversar com você inúmeras vezes sobre sua ausência. 

Ah meu amor, estou indo com muita dor no coração, com muito amor no peito, mas com a consciência tranquila. 

Eu preferiria uma casa simples, mas com a minha família completa!

Obrigado por tudo e boa sorte!

Beijos de quem te amou e esperou todos os dias,

Flávia. "

Após ler a carta,  Pedro sentiu o mundo esmagar seu corpo.  Com uma dor lancinante deixou que algumas lágrimas caíssem dos seus olhos.

Não sabia o que fazer!


Olhou ao redor, viu a mesma casa que lhe dera orgulho.  Olhou pra garagem  e viu os carros.  
Pensou em todo aquele conforto e teve a certeza que sua esposa tinha sido muito injusta.  Afinal,  ele trabalhava pra dar o melhor pra sua família.



Foi para seu quarto e viu sobre a cama 3 cadernos grandes.  
Abriu os cadernos um a um.  E cada folha  tinha um diálogo.  Tinham mais de mil diálogos.


Os diálogos eram textos que Flávia lia.

Eram sempre entre uma mulher e outra pessoa, do gênero masculino.  Mas somente a mulher tinha falas. 

Ora, pensou ele,  mas que textos sem graça.  Isso não são diálogos.  São só monólogos.  Qual é a graça que a Flávia via nisso?  Conversar sem ter alguém pra responder?!  Eu não consigo entender!

Então, resolveu tomar banho e foi quando de repente ele realizou que aqueles cadernos representavam a  sua vida de casado com Flávia. 

Naquele momento decidiu que deveria enfrentar sua rotina de trabalho de outra forma, mas a Flávia.....


A Flávia?

A Flávia já estava lendo outros cadernos!  


O autor informa que o nome dos personagens é fictício.
Victor Magalhães